25 de out. de 2012

O velho lobo

O pai se matou com veneno de rato. A mãe, após 16 tentativas, conseguiu o feito. Esse cara deu uma surra no pai. Arrebentou um violão na cabeça. Mas ainda o admirava. E ele tira sarro do suicídio do pai: “O meu morreu no dia do índio; ele tava namorando uma putinha, em Campo Grande, e ela deu em cima de mim”. Um cara inadaptado. Famigerado. Caótico.

No velório de Júlio Barroso, junto com Cazuza, cheiraram uma fileira de cocaína sobre o caixão. Preso em qualquer lugar, por qualquer coisa. Shows cancelados pelo Juizado de Menores. 132 processos no lombo. Perseguido. E outras memórias de cárcere, quando preso, eleito "síndico" dos colegas de cela.

Ingênuo. Boi de piranha de jornalistas. Sabotador de si mesmo. E sobrevivente. Genial. Coragem imensa de encarar os próprios demônios. Com muita ironia e cinismo. Mas um tremendo escritor.

Lembrei duma epígrafe do escritor Gustaveira; “Todo exorcismo /tem de ser pessoal/ demônios domados/ nunca têm /tanta graça”, do poeta Lupeu Lacerda.

Foi lançadao em outubro de 2010, pela editora Nova Fronteira. Escrito em co-autoria com Cláudio Tognolli.