28 de nov. de 2012

Elefantes cor de rosa



"A válvula que segurava a pressão do tubo partiu, e a rodinha-burguesa deveria cheirar tudo pra não desperdiçar o espírito louco que evaporava. Todos deram uma grande paulada, mas ele, o pitboy, malhadinho, inalou a maior parte.

Escutou chiado de estática na cabeça. Pra sintonizar, mais um tiro profundo. Calibre Elephant Gun. Dose para elefantes; sentiu o chão tremer e uma manada deles correndo, livres, em suas veias. Elefantes cor-de-rosa vestindo saia bufante, vedetes francesas de Cancan, saltitando no punk acelerado dos Ramones; Surfin´ Bird; até explodir um golpe arrebatador no queixo. Um gancho do Muhammad Ali.

O uppercut fez seu corpo desabar para trás e uma pausa foi concedida em meio àquele mar de gente. Em frames dilatados, quadro a quadro, levitando e o corpo estirado, curtiu a trip siberiana experimentando os cabelos soltos no ar. O trem transiberiano no peito em marcha descendente, e ele como uma pena a flutuar, escutou bem de longe uma valsa folk-indie, “we dream to die, we dream to night”; um trechinho de Elephant Gun, do Beirut. Então seu corpo afundou na lona macia, uma piscina gélida, mãos e pernas congelando na água fria, e ele submerso, olhando a multidão sobre um piso translúcido, até ser resgatado por três sereias; a ruiva, a loira e a morena. Foi salvo por um beijo triplo e lhe ergueram do chão".

Na Verbo21 edição de novembro:

http://www.verbo21.com.br/v5/index.php?option=com_content&view=article&id=1735:diogo-costa-conto&catid=132:tribuna-novermbro-2012&Itemid=177

30 de out. de 2012

Jack, De frente com Gabi

Imaginei o iluminado em Marília Gabriela.

Vida?
Medo?
Frase predileta?
E por fim, Jack Kerouac por Jack Kerouac.





"Apanhe um pêssego, apanhe a laranja suculenta, abra um buraco com uma mordida, pegue a a laranja, incline a cabeça para trás, use toda a sua força, beba e esprema a laranja pelo buraco, o sumo escorre por seus lábios e sobre os braços dela. - Ela tem poeira nos dedos de seus pés e esmalte nas unhas deles - tem uma cintura fina e morena, um queixinho delicado, pescoço suave como o de um cisne, voz baixa, singela feminilidade e não sabe disso - sua voz baixa é tilintante. (...). Minha mente está nos joelhos morenos de Carmelita, na mancha negra entre suas coxas, onde a criação esconde sua majestosidade, e todos os rapazes ávidos correm sofrendo e querem tudo, o buraco inteiro, serviço completo, o pêlo, a membrana a ser explorada, aquela adorável, queridinha coisinha aconchegante, ela nunca pode, e o sol se põe, está escuro, e eles estão deitados em um parreiral (...)".

Viajante Solitário, Jack Kerouac. Tradução de Eduardo Bueno.

25 de out. de 2012

O velho lobo

O pai se matou com veneno de rato. A mãe, após 16 tentativas, conseguiu o feito. Esse cara deu uma surra no pai. Arrebentou um violão na cabeça. Mas ainda o admirava. E ele tira sarro do suicídio do pai: “O meu morreu no dia do índio; ele tava namorando uma putinha, em Campo Grande, e ela deu em cima de mim”. Um cara inadaptado. Famigerado. Caótico.

No velório de Júlio Barroso, junto com Cazuza, cheiraram uma fileira de cocaína sobre o caixão. Preso em qualquer lugar, por qualquer coisa. Shows cancelados pelo Juizado de Menores. 132 processos no lombo. Perseguido. E outras memórias de cárcere, quando preso, eleito "síndico" dos colegas de cela.

Ingênuo. Boi de piranha de jornalistas. Sabotador de si mesmo. E sobrevivente. Genial. Coragem imensa de encarar os próprios demônios. Com muita ironia e cinismo. Mas um tremendo escritor.

Lembrei duma epígrafe do escritor Gustaveira; “Todo exorcismo /tem de ser pessoal/ demônios domados/ nunca têm /tanta graça”, do poeta Lupeu Lacerda.

Foi lançadao em outubro de 2010, pela editora Nova Fronteira. Escrito em co-autoria com Cláudio Tognolli.